Capa mole c/ estampagem a quente,
offset, 176 pp.


A história de todos e de cada um:

Ida
Catorze retratos anónimos
A gradual feitura de A Feitura dos Americanos


Gertrude Stein

textos: Gertrude Stein
tradução: Ricardo Alberty e Luísa Costa Gomes
edição: Rui Almeida Paiva e Sofia Gonçalves
design: Sofia Gonçalves



Três textos de Gertrude Stein, reunidos de forma inédita, compõem o livro A história de todos e de cada um: o romance Ida (de 1940, publicado em 1941), os poemas Catorze retratos anónimos (de 1923 e publicado em 1934, na colectânea de primeiros ensaios e retratos literários Portraits and Prayers), o ensaio A gradual feitura de A Feitura dos Americanos (redigido em 1934 para o ciclo de conferências que Stein ministra nos E.U.A. e que viria a ser publicado em Lectures in America, em 1935).

Durante a sua vida, que é o mesmo que dizer, durante a sua obra, Stein dedicou tanto tempo à exegese quanto à criação. É também a feitura da escrita de Stein que se procura aqui evocar em três tempos e três géneros: o romance, a conferência/ensaio, a poesia. Importou demonstrar como Stein escreveu o que pensou e pensou o que escreveu. Se a sua escrita é um laboratório, esta exprime-se tanto através do pensamento em torno da prática, como do pensamento enquanto possível extensão da prática, ou seja, em Stein, a teoria só se afasta da prática por mera circunstância ou protocolo.

A tudo isto acresce o mote que dá título à presente edição: a ambição de simultaneamente narrar a história de todos e de cada um.

«Narrar assim é fazê-lo numa extremidade, num qualquer limite. Ou em abdicação de qualquer interioridade? Uma das possíveis expressões dessa hipótese reside na similitude que há entre alguns passos de Ida (…) e os chamados contos de fadas.»
Hugo Pinto Santos, «Gertrude Stein: oráculo e provocação», Ipsilon/Público (22.07.2022)

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E então aconteceu qualquer coisa.
O que aconteceu foi isto.
Toda a gente começou a sentir a falta de qualquer coisa e não era de um beijo, aposto a minha vida em como não era de um beijo que toda a gente começou a sentir a falta. E daí talvez fosse.
De qualquer forma aconteceu alguma coisa e toda a gente ficou muito excitada por ser alguma coisa e por ter acontecido. Aconteceu lentamente e depois foi acontecendo e a seguir aconteceu um pouco mais depressa e continuou a acontecer e aconteceu e aconteceu na verdade aconteceu e depois tinha acontecido e foi acontecendo
e por fim lá estava o acontecimento e se estava é porque estava mas agora já ninguém se importava.
E tudo isto parece estranho mas é absolutamente verdade.

Gertrude Stein, Ida.
GERTRUDE STEIN (1874-1946) nasceu na Pensilvânia, e era a irmã mais nova de cinco filhos. Os seus pais eram descendentes de judeus alemães. Estudou Psicologia, onde participou nos seminários de William James e, mais tarde, Medicina. Desiste enquanto frequenta o quarto ano, juntando-se ao irmão Leo Stein, em Paris. Em 1903, moram no lendário número 27 da rue de Fleurus. Juntos, adquirem obras de Cézanne, Renoir, Matisse e Picasso, tornando-se amigos destes. Aos trinta e dois anos, Gertrude Stein dirige, com Leo, um dos salões mais importantes de Paris, posando para Picasso e escrevendo o que viria a ser o seu primeiro livro, Três Vida (1909). Em 1907, conhece Alice B. Toklas, com quem vive cerca de quarenta anos. No pós-guerra, com o cubismo em declínio, Apollinaire morto, Matisse e Picasso ricos e famosos, novos pintores e escritores começam a frequentar o salão de Stein: Gris, Picabia, Scott Fitzgerald e Hemingway. Stein alcança o seu primeiro sucesso literário com a publicação A autobiografia de Alice B. Toklas (1933). Em 1934, parte para uma tournée de palestras pela América, editadas em Lectures in America (1935), e onde encontramos A gradual feitura de A Feitura dos Americanos. Na sua vasta obra, encontramos, entre outros: Ternos Botões (1914), The Making of Americans (1925), Portraits and Prayers (1934), Everybody’s Autobiography (1937), O Mundo é Redondo (1939) e Ida (1941). Aos setenta e dois anos, Gertrude Stein adoece, acabando por falecer após uma operação. As suas últimas palavras para Alice foram: «Qual é a resposta?». Como não obteve resposta, continuou: «Nesse caso, qual é a pergunta?».



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Tuesday Oct 5 2021