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Capa mole, offset, 195x125mm, 256 pp.,
500 exemplares.
Bakakai
Witold Gombrowitcz
texto: Witold Gombrowicz
edição: Rui Almeida Paiva e Sofia Gonçalves
tradução: Rui Almeida Paiva
design: Sofia Gonçalves
Bakakai é uma colectânea de contos cuja
composição abrange um razoável período da vida literária do
autor. Agrupados pela ordem cronológica invertida, os primeiros
contos deste livro são os mais recentes, e o último constitui a primeira obra
literária de Gombrowicz.
Nos dez contos deste livro, encontramos o talento de Gombrowicz para despertar – normalmente a partir de um pequeno incidente ou uma pequena anomalia que surge inesperadamente no quotidiano de um personagem – a presença concreta de um mistério. Numa prosa hábil, mordaz, hilariante e impiedosa, o autor expõe a tensão (levada ao limite do suportável) dos seus assuntos de eleição: a obsessão irracional, a identidade, a forma, a máscara aristocrática, a (i)maturidade e a juventude.
«Com a história a acelerar, ameaçadora, as populações aferram-se a valores identitários obsoletos ou artificiais, mas Gombrowicz intui na vertigem do seu tempo a volatilidade juvenil. A imaturidade, já se sabe, serve para conotar os adultos que se comportam como crianças e as crianças armadas em adultas. Atributo de tudo o que é instável, transitivo, reactivo, incoerente, volátil, inadaptado, malformado ou informe. Mas a imaturidade, na obra ficional de Gombrowicz, descreve também o abismo que separa identidade e comportamento.»
Rui Catalão, «Comédia do Inferno», Público (14.08.2020)
Nos dez contos deste livro, encontramos o talento de Gombrowicz para despertar – normalmente a partir de um pequeno incidente ou uma pequena anomalia que surge inesperadamente no quotidiano de um personagem – a presença concreta de um mistério. Numa prosa hábil, mordaz, hilariante e impiedosa, o autor expõe a tensão (levada ao limite do suportável) dos seus assuntos de eleição: a obsessão irracional, a identidade, a forma, a máscara aristocrática, a (i)maturidade e a juventude.
«Com a história a acelerar, ameaçadora, as populações aferram-se a valores identitários obsoletos ou artificiais, mas Gombrowicz intui na vertigem do seu tempo a volatilidade juvenil. A imaturidade, já se sabe, serve para conotar os adultos que se comportam como crianças e as crianças armadas em adultas. Atributo de tudo o que é instável, transitivo, reactivo, incoerente, volátil, inadaptado, malformado ou informe. Mas a imaturidade, na obra ficional de Gombrowicz, descreve também o abismo que separa identidade e comportamento.»
Rui Catalão, «Comédia do Inferno», Público (14.08.2020)
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Que Inferno! – resmungou o Comandante. – Olhe, por exemplo, estes mastros. Mantendo-se firmes todo o tempo, estupidamente. É uma estupidez. E eu também... mantenho-me em pé, estupidamente. Ambos em pé, eu e o meu copo. Diga você, o que se pode fazer com o copo? Parti-lo, não vejo outra possibilidade? Pois bem, foi o que fiz ontem à noite. De manhã à noite, nada acontece a bordo desta porcaria de barco. Quando olho para este corrimão – e deu-lhe um murro – e vejo que reluz sempre do mesmo modo, pois bem, enquanto o olho, sinto que estou prestes a enlouquecer – e começou a lamentar-se baixinho, num tom magoado, dizendo-me que tudo era estúpido, realmente estúpido. – Tudo deve reluzir, cada coisa deve estar no seu lugar, os meus marinheiros não fazem outra coisa senão lavar, esfregar, polir, de manhã à noite. Como o senhor sabe, a bordo de um navio é obrigatória uma limpeza absoluta, diria até exagerada. E porquê, diabos, porquê?
Witold Gombrowicz, «Acontecimentos a bordo da Goleta Banbury», Bakakai.
WITOLD GOMBROWICZ nasce no sul da Polónia, em 1904. Enquanto romancista, publicou os
seguintes títulos: Ferdydurke, Cosmos, Pornografia e Transatlântico. Para
teatro, escreve duas peças: Ivone, Princesa do
Borgonha e O Casamento. Diários, o seu último livro, torna-se, nas palavras do autor, no seu «animal de
estimação» (acompanhando-o, nos últimos dezasseis anos de
vida, para todo o lado), onde regista, ao longo de mais de
setecentas páginas, uma longa e intensa conversa consigo próprio. Morre no sul de França, em 1969.