Capa mole c/ estampagem
a quente, offset e impressão digital,
195x125mm, 142 pp.,
500 exemplares.
Fragmentos narrativos
Paul Valéry
texto: Paul Valéry
tradução: Leonor Nazaré
edição: Rui Almeida Paiva e Sofia Gonçalves
design: Sofia Gonçalves
︎esgotado
São misteriosos, estes Fragmentos
Narrativos produzidos e deixados organizados num dossier, por Paul Valéry. Escritos entre 1916 e 1943 (com maior fulgor
em 1923, em resposta a um pedido de Gaston Gallimard), a obra acabaria por ser
publicada postumamente em 1950.
Por terem sido escritos sem o compromisso de ganhar uma forma, ou uma aproximação de uma forma final, tornam-se tão livres quanto densos — pois cada frase parece merecer o seu próprio texto — que se oferece a múltiplas interpretações. São múltiplas, igualmente, as formas textuais utilizadas: desde notas, fragmentos, começos, poemas inacabados, etc.
Em Fragmentos Narrativos, o autor demonstra o seu contínuo interesse pelas formas experimentais da prosa e da ficção, onde nos deparamos com figuras enigmáticas, ou releituras de figuras lendárias ou míticas (como Robinson Crosué). Sobre os fragmentos, Valéry deixa-nos desde logo esta «Advertência»:
«Acontece-me, como a muitos, mas raramente, anotar o essencial do que assim me vem à ideia. São ‘ideias’, ‘assuntos’, como se diz, por vezes duas palavras, um título, um germe. Finalmente, acontece também que, voltando aos meus papéis, me ponha a escrever o que se tinha formado por si só na minha cabeça. Escrevo-o como se estivesse nisso o começo duma obra. Mas sei que a obra não existirá, sinto que ignoro a direcção que tomaria, e que me aborreceria se me aplicasse a conduzi-la a algum objectivo bem determinado. Ao fim de algumas linhas ou de uma página, desisto tendo apenas captado pela escrita o que me tinha surpreendido, divertido, intrigado, e não me preocupo em exigir dessa produção espontânea que se prolongue, organize e complete, sob as exigências de uma arte. Aqui, intervém, aliás, a minha sensibilidade excessiva em relação à arbitrariedade…»
Paul Valéry, «Advertência», Fragmentos Narrativos.
«Nestes Fragmentos Narrativos há reflexões, pedaços de contos e até um poema a fechar o livro...» Carlos Vaz Marques, «Fragmentos Narrativos», Livro do Dia TSF (20.05.2016)
Por terem sido escritos sem o compromisso de ganhar uma forma, ou uma aproximação de uma forma final, tornam-se tão livres quanto densos — pois cada frase parece merecer o seu próprio texto — que se oferece a múltiplas interpretações. São múltiplas, igualmente, as formas textuais utilizadas: desde notas, fragmentos, começos, poemas inacabados, etc.
Em Fragmentos Narrativos, o autor demonstra o seu contínuo interesse pelas formas experimentais da prosa e da ficção, onde nos deparamos com figuras enigmáticas, ou releituras de figuras lendárias ou míticas (como Robinson Crosué). Sobre os fragmentos, Valéry deixa-nos desde logo esta «Advertência»:
«Acontece-me, como a muitos, mas raramente, anotar o essencial do que assim me vem à ideia. São ‘ideias’, ‘assuntos’, como se diz, por vezes duas palavras, um título, um germe. Finalmente, acontece também que, voltando aos meus papéis, me ponha a escrever o que se tinha formado por si só na minha cabeça. Escrevo-o como se estivesse nisso o começo duma obra. Mas sei que a obra não existirá, sinto que ignoro a direcção que tomaria, e que me aborreceria se me aplicasse a conduzi-la a algum objectivo bem determinado. Ao fim de algumas linhas ou de uma página, desisto tendo apenas captado pela escrita o que me tinha surpreendido, divertido, intrigado, e não me preocupo em exigir dessa produção espontânea que se prolongue, organize e complete, sob as exigências de uma arte. Aqui, intervém, aliás, a minha sensibilidade excessiva em relação à arbitrariedade…»
Paul Valéry, «Advertência», Fragmentos Narrativos.
«Nestes Fragmentos Narrativos há reflexões, pedaços de contos e até um poema a fechar o livro...» Carlos Vaz Marques, «Fragmentos Narrativos», Livro do Dia TSF (20.05.2016)
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É o maior triunfo do homem (e de algumas
outras espécies) sobre as coisas, o ter sabido transportar até ao dia
seguinte os efeitos e os frutos do trabalho da véspera. A lenta evolução da
humanidade deu-se apenas sobre a acumulação daquilo que é durável.
Paul Valéry, «Robinson», Fragmentos Narrativos.
A ideia de que a morte deve ser o principal tema de reflexão e o objecto principal da atenção dos vivos nasceu com o luxo – com a abundância de reservas.
Daí a estranha pergunta: perante coisas inúteis, em que pensar?
Paul Valéry, «Robinson», Fragmentos Narrativos.
Mas o que é que não é afinal o resultado duma expulsão? A mãe vomita o seu filho, o pensamento expulsa as frases mais ou menos maduras. Donde vem então esta repugnância? Depende talvez do destino que damos às coisas que saem de nós? O excremento vai para as fossas, a criança para a vida, as frases para o nada.
Mas que há de mais estranho também do que haver um Dentro e um Fora?
Paul Valéry, «Diário de Emma», Fragmentos Narrativos
Paul Valéry, «Robinson», Fragmentos Narrativos.
A ideia de que a morte deve ser o principal tema de reflexão e o objecto principal da atenção dos vivos nasceu com o luxo – com a abundância de reservas.
Daí a estranha pergunta: perante coisas inúteis, em que pensar?
Paul Valéry, «Robinson», Fragmentos Narrativos.
Mas o que é que não é afinal o resultado duma expulsão? A mãe vomita o seu filho, o pensamento expulsa as frases mais ou menos maduras. Donde vem então esta repugnância? Depende talvez do destino que damos às coisas que saem de nós? O excremento vai para as fossas, a criança para a vida, as frases para o nada.
Mas que há de mais estranho também do que haver um Dentro e um Fora?
Paul Valéry, «Diário de Emma», Fragmentos Narrativos
AMBORISE-PAUL-TOUSSAND-JULES
VALÉRY nasceu em Sète, em 1871. Estudou na Faculdade
de Direito de Montpellier e foi ainda na época da faculdade que publicou os
seus primeiros poemas, como "Sonho", "Elevação da lua",
"A marcha imperial" e "Narciso fala". Em 1893 foi para Paris, onde conheceu o poeta
Stéphane Mallarmé, com quem inicia uma grande amizade. Diz-se que por causa de um amor não correspondido, por
Madame Rovira, Valéry se voltou para a reflexão filosófica. Num período de
crise, publicou importantes ensaios filosóficos, como Introdução ao método de
Leonardo da Vinci e Monsieur Teste. O reconhecimento de seu trabalho surge em
1917, quando publicou o poema “A jovem Parca”. Na sua sequência surgem “Álbum de
Versos antigos” e "Charmes". Pouco tempo depois, em 1925, ingressou
na Academia Francesa de Letras. A partir de então seriam publicados
Rumbas, Analetos, Literatura,
Consideração sobre o Mundo Atual, Maus Pensamentos e
Outros, Tal Qual, entre outras obras marcantes. A sua obra é usualmente dividida em
três fases: a primeira, que vai de 1890 até 1892, caracteriza-se por
ser um período em que o autor se dedicou à poesia; a segunda, de 1892 até 1917,
é uma época em que não há produção, o período de crise; na terceira, a partir de
1917, surge a consagração, em que publica
vários livros, muitos com carácter reflexivo. É reconhecido e celebrado ainda em
vida como o grande pensador francês. Valéry
faleceu em 1945, em Paris.